Web: um espaço de colaboração

27/11/2013 12:47

 

Web: um espaço de colaboração

Tânia Traub Fries

Profª Drª Santa Inês Pavinato Caetano

Abstract : This article presents a reflection about the use of the blog technology as an educational tool, to demonstrate the possibilities of using this in the teaching / learning process, emphasizing its importance for the construction of knowledge.

From this study, we conclude that the technology blog is not being exploited by the majority of teachers in municipal schools, the use of blogs is an important educational tool for learning development, and this technology should be further considered in the formations of training teachers to be used in the school context. And that acquiring basic computer knowledge is essential to all education professionals.

Key words: Blog, Education

Resumo: Neste artigo, apresenta-se uma reflexão sobre o uso da tecnologia blog como ferramenta educacional, a fim de demonstrar as possibilidades de uso desta no processo de ensino/aprendizagem, enfatizando a sua importância para a construção do conhecimento.

Conclui-se, portanto, que o uso dos blogs educacionais seja uma  importante ferramenta de desenvolvimento das aprendizagens, que essa tecnologia deva ser mais estudada nas formações de capacitação dos professores, para ser utilizada no contexto escolar. E que a aquisição de conhecimentos básicos de informática é essencial a todos profissionais da educação.

Palavras-chaves: Blog. Educação.

 

Introdução

O blog pode ser explorado em estratégias inovadoras de aprendizagem, sendo estas valiosas para o fortalecimento da relação entre professor-aluno. No momento em que o professor volta seu olhar aos reais interesses do seu aluno, ele torna-se mais do que um mediador no processo ensino aprendizagem, pois através de interações de compartilhamento é possível que ambos possam aprender e ensinar.

 Na próxima etapa deste artigo será apresentada a web como um possível espaço de autoria e colaboração

        Web: um espaço de  colaboração

      A web 2.0 possui várias definições e contradições sobre sua real existência, mas acredita-se que seja uma nova versão da internet com conteúdo dinâmico e aberto a participação dos internautas que podem compartilhar, colaborar e interagir com as informações da rede.  

De acordo com Primo (2007, p.1),

 

[...] a Web 2.0 é a segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação  entre os participantes do processo. 

 

É uma Web mais social onde a utilização da internet pode ser realizada como meio de criar, compartilhar, colaborar, publicar e interagir com a informação na rede.

A evolução dos espaços na Web 2.0 dá origem a várias tecnologias dentre elas o blog. Se antes as pessoas ficavam limitadas a interagir passivamente com publicações, atualmente, podem participar ativamente dentro da rede. No contexto da web 2.0 não é preciso grande conhecimento da linguagem de programação para ter este espaço e estar interconectado com outros grupos. Assim como diz Primo (2008, p.64)

[...] se na primeira geração da web boa parte da atividade de um internauta ficava presa nos corredores dos portais, a web 2.0 valoriza principalmente as práticas cooperativas, os diálogos e as negociações, as contínuas problematizações. Ou seja, a interação mútua.

 

            Em 1997, Jorn Barger, considerado um dos primeiros blogueiros, concebeu o termo “weblog”, definindo-o como uma página da Web, onde qualquer pessoa pode colocar uma mensagem, além de reunir e expor outras páginas  de seu interesse. O termo foi alterado por Peter Merholz, que decidiu pronunciar “wee-blog”, que tornou inevitável o encurtamento para o termo definitivo “blog”. (FERREIRA, 2008).

            Komesu (2005) cita que na década de 1990 eram poucos os que utilizavam a ferramenta blog. Com a criação do blogger, em 1999, começaram a aparecer inúmeros blogs sobre diversos temas. A liberdade para reflexões dos seus administradores, a organização de notas, mensagens e o compartilhamento de suas ideias criou a possibilidade de novas interações, tecidas na rede da web. Eis que:

O software fora concebido como uma alternativa popular para publicação de textos on-line, uma vez que a ferramenta dispensava o conhecimento especializado em computação. A facilidade para a edição, atualização e manutenção dos textos em rede foram – e são – os principais atributos para o sucesso e a difusão dessa chamada ferramenta de auto-expressão. (KOMESU, 2005, p. 111).

 

            Define-se blog como ambiente onde são publicadas informações (textos, vídeos, imagens), comentários e indicações de links, além de ser um ambiente que possibilita aos seus leitores, realizar debate de ideias independente da localização das pessoas, estimulando a comunicação, o compartilhamento de informações e conhecimentos e a liberdade de expressão. De acordo com Veen Wim (2009, p. 96)

A nova tecnologia nos apresentou a mudança. Podemos agora acessar muitas informações e de maneira muito mais rápida do que antes. Nos últimos anos, observamos um uso cada vez maior da internet como era no inicio: um meio de comunicação. Já que tecnologia da computação invadiu todos os setores de nossas vidas, foi apenas lógico que ela não deixasse de fazê-lo com uma das instituições centrais com as quais somos confrontados desde a mais tenra juventude: as escolas.

 

            A necessidade de rapidez na comunicação leva ao informalismo linguístico. Segundo Ruiz (2005, p. 121), a linguagem do chat migrou para o ambiente dos blogs: “[...] tudo leva a crer que estejam simplesmente importando para o blog as formas linguísticas típicas do discurso do chat”. É possível perceber, entretanto, que muitas expressões já consagradas pelos internautas em outros sites de relacionamentos estão se incorporando ao acervo linguístico dos blogueiros.

Diferente dos e-mails e chats, um visitante pode deixar registrado - na sessão comentários - o que achou da postagem e até mesmo impressões sobre a pessoa do blogueiro em questão. Para ter acesso a esta tecnologia não é necessário nada além de um computador com acesso à internet.

            Os blogs são registros similares aos diários escritos e às agendas contemporâneas que devido ao seu fácil acesso vêm despertando o interesse e, com isto, se multiplicando dia a dia.

            Hoje, com a evolução da Web, o blog pode ser usado para divulgar fotos, vídeos, críticas e comentários sobre filmes e livros, assim como, serve para esclarecer dúvidas de qualquer natureza, inclusive escolares, ampliando a qualidade das práticas pedagógicas como um canal de comunicação entre professores e alunos.

            Muitos educadores ainda buscam estratégias didáticas para cativar seus alunos e, às vezes, não percebem que ela está diante de todos nós: a web. Sabendo explorá-la, conduzindo pesquisas, produções escritas e atividades de diferentes áreas de conhecimento, o professor promoverá a construção de conhecimento de uma maneira lúdica e agradável. Sancho (2006, p.21), diz que:

Quem considera que a aprendizagem se baseia na troca e na cooperação,       no enfrentamento de riscos, na elaboração de hipóteses, no contraste, na argumentação, no reconhecimento do outro e na aceitação da diversidade vê nos sistemas informáticos, na navegação pela informação e na ampliação da comunicação com pessoas e instituições geograficamente distantes a resposta às limitações do espaço escolar.

 

 

Apesar de todas as possibilidades de autoria, com o passar do tempo, os internautas passaram a sentir certas limitações com relação às suas ações na Web 2.0. Desta forma, surge a Web Semântica Social ou Web 3.0, permitindo criar sistemas de conhecimento coletivos (Collective Knowledge Systems) nos quais diferentes comunidades podem compartilhar a informação como na Web 2.0 e organizar e estruturar o significado destas informações como na Web Semântica (GRUBER, 2008).

Esta ferramenta, aplicada em sistemas educacionais inteligentes, permite que os alunos compartilhem informações e recursos que acharem interessantes. Como vimos a informação na Web é tipicamente representada em linguagem natural permitindo que ela seja compreendida por qualquer indivíduo. Contudo, para que computadores também possam extrair seu significado é necessário representá-la de forma sistemática e semântica. Seu nome, Web Semântica, foi  utilizado para introduzir a nova geração de tecnologias que tem como objetivo representar a informação de uma maneira na qual computadores sejam capazes de interpretá-la.

Além disso, através desta representação, as pesquisas em Web Semântica propõem tecnologias para automação, integração e reuso da informação mesmo considerando diferentes plataformas de desenvolvimento, sistemas operacionais, protocolos de rede, e outras variações de tecnologia (DEVEDZIC, 2006).

A tendência é que os recursos midiáticos se tornem mais populares a cada dia, como o uso de celulares, tablet’s ou outros dispositivos móveis: a utilização da Web 3.0 que através da convergência de várias tecnologias, permite organizar e acessar de forma mais racional os recursos da Internet, pois promove a interação dentro de um conjunto de tecnologias com formas eficientes para ajudar computadores a organizar informações disponíveis na rede, permitindo analisar um número maior de informações com maior eficiência e rapidez.

            Conforme afirma Lemos (2004,  p.256, 257) “As novas tecnologias tornam-se onipresentes ao ponto de não podemos discernir claramente onde começam e onde terminam (chips em geladeiras, automóveis ou relógios, cartões eletrônicos, smartcards, celulares, etc.).” Sendo assim os conteúdos da contemporaneidade, precisam ser contemplados pelas práticas pedagógicas da escola atual, a fim de que as aulas, até então, monótonas e repetitivas, se tornem mais interessantes aos nossos jovens. Desta forma, muitos outros fatores serão beneficiados: é plausível que se identifique melhorias no processo de aprendizagem, além de que problemas como a evasão e a repetência deverão diminuir.

             Segundo Pierre Lévy (1993), devido ao não conhecimento do momento em que se vive, diante das velozes mudanças e inúmeras interrogações e incertezas, muitas pessoas, preferem abraçar as críticas sobre a técnica, nascidas do medo e da ignorância, do que investir em estudos para conhecer o que se passa.

      

O cúmulo da cegueira é atingido quando as antigas técnicas são declaradas culturais e impregnadas de valores, enquanto que as novas são denunciadas como bárbaras e contrárias à vida. Alguém que condena a informática não pensaria nunca em criticar a impressão e menos ainda a escrita. Isso, porque a impressão e a escrita (que são técnicas!) o constituem em demasia para que ele pense em apontá-las como estrangeiras.  (LÉVY, 1993, p. 15).

        

Como se vê, a humanidade está na era das telecomunicações, porém, segundo Lévy (1999), está passando despercebida a grandeza dessa nova realidade, e isso faz desconhecer totalmente os benefícios que essa revolução pode vir a nos oferecer, principalmente no campo do conhecimento. A web torna-se um exemplo quando é utilizada apenas como um instrumento de transmissão de informações, ao invés de ser explorada como um espaço para a construção de conhecimento.

Em virtude disso, discutiremos agora o emprego do blog como uma ferramenta para uma mediação pedagógica pautada nas práticas de autoria e na construção colaborativa de aprendizagens.

No início do século passado, Lev S. Vygotsky, professor e pesquisador russo, lançou o conceito de que o desenvolvimento cognitivo é impactado por interações e relações sociais. Ou seja, aprender é uma atividade social mediada pelos colegas e professor; não uma tarefa isolada (LA TAILLE, OLIVEIRA e DANTAS, 1992); (VYGOTSKY, 2008). Este é o conceito do aprendizado colaborativo. O Canadá foi um dos primeiros países a introduzir o ensino colaborativo online. Desde então, a maioria das universidades do Canadá utiliza o modelo pedagógico colaborativo.  Além disso, o trabalho colaborativo tem conquistado escolas e cursos de capacitação profissional em todo o  país.  (https://www.administradores.com.br/informe-se/noticias-academicas/aprendizado-colaborativo-aprender-tambem-e-ensinar/3566/) .

O aprendizado colaborativo é uma ferramenta que permite que o seu usuário acumule conhecimentos comuns a todos (professores e alunos), podendo alterá-los, acessá-los, estabelecer buscas, compreensão e interpretação da informação de diferentes áreas de conhecimento a qualquer momento. As informações são socializadas utilizando a blogosfera, acelerando, desta forma, a construção e reconstrução dos saberes, tornando-se um aliado das práticas pedagógicas inovadoras.

Este tipo de ensino com pesquisa, abordagem progressista e visão holística, é exemplo de inteligência coletiva, uma vez que incentiva as trocas ativas de ideias - construção social, pois é uma estratégia de ensino na qual os alunos com diferentes potencialidades e limitações trabalham tendo uma única meta .

A aprendizagem colaborativa responsabiliza os membros de uma comunidade de um modo que eles sejam o eixo central da sua própria escolarização, contribuindo com seus conhecimentos. O processo de ensino aprendizagem não está somente envolvendo a ligação professor/aluno, mas sim todos aqueles que fazem parte do grupo de aprendizagem.

 

Considerações finais

 Sabemos que estes dois principais aspectos: comunicar e interagir, que configura o blog pode ser explorado pedagogicamente. Mas para que o uso pedagógico seja efetivamente uma prática constante é necessária uma mudança de postura: da mantenedora, dos gestores e dos educadores em geral. Cabe lembrar que o objetivo de introduzir novas tecnologias na escola é promover novas ações e práticas que não se podem realizar de outras maneiras.

A aquisição de conhecimentos básicos de informática é essencial a todos profissionais da educação. E, espera-se que tais profissionais tenham o conhecimento mínimo para utilizar as tecnologias da informação e da comunicação necessárias para desenvolver suas práticas pedagógicas e esclarecer algumas dúvidas técnicas de seus alunos, superando inseguranças e medos comuns a todos diante de situações novas. A apropriação das novas tecnologias na prática educativa acontecerá gradativamente de maneira consciente e tranquila.

Desta forma, a exclusão social gerada pelo desconhecimento do universo digital ou mesmo pela falta de acesso à tecnologia diminuirá gradativamente da nossa sociedade. É papel da escola é fornecer tais conhecimentos. Assim como, é somente por meio de novas metodologias de ensino que o prazer em aprender voltará à sala de aula.

 

Referência bibliográfica

 

 

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FERREIRA, B. Débora. Blog como ferramenta da comunicação empresarial; 2008 algumas considerações- Acesso em: 30.05.2012 https://www.aberje.com.br/monografias/Monografiadebor

 

 

 

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KOMESU, Fabiana. C. Blogs e as práticas de escrita sobre si na Internet. In: MARCUSCHI, L. A. e XAVIER, A. C. (Orgs.).Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.Disponível em: www.ufpe.br/nehte/artigos/Blogs-Fabiana-Komesu.pdf  Acessado em 10.12.2011

 

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VEEN, Wim, Homo Zappiens: educando na era digital, tradução Vinicius figueira;Porto Alegre: Artmed, 2009.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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